Com cerca de 200 mil habitantes, Oulu é a maior cidade do norte da Finlândia. Sua forte cultura empreendedora e seu status como um dos principais centros de pesquisa de tecnologia do país a fizeram se beneficiar, como poucas, da fase de ouro da Nokia. Entre 1998 e 2011, a empresa foi a líder mundial em vendas de telefones celulares. A companhia perdeu espaço com a chegada dos smartphones, e Oulu foi diretamente afetada, mas rapidamente se reinventou – e o desenvolvimento da tecnologia 5G está no centro dessa metamorfose.
A reinvenção de Oulu ocorre em paralelo com a que vive a própria Nokia, que nasceu em 1865 como uma fábrica de papel. (Ao longo das décadas, ela também produziu pneus, botas de borracha, máscaras de gás de uso militar, equipamentos de criptografia e aparelhos de TV.) Foi com a telefonia móvel, no entanto, que ela atingiu seu auge. Em 2008, a companhia chegou a responder por quase 40% das vendas globais de celulares.
Mas as coisas já não iam bem. Afetada pela crise financeira global e pela ascensão de concorrentes como a Apple, que lançara o iPhone em 2007, a empresa anunciou em 2010 que demitiria 7 mil de seus 123 mil funcionários no mundo. No mesmo ano, a Microsoft anunciou a compra, por US$ 7 bilhões, da divisão telefonia móvel da empresa.
Sementes de inovação
Grande parte dessas demissões ocorreram em Oulu, que tinha na Nokia sua maior empregadora do setor privado. Mas as sementes plantadas pela companhia realimentaram a cultura local de empreendedorismo e inovação. Em 2017, mais de mil novas empresas nasceram na cidade, como registra o site Quartz. Muitas delas foram criadas por ex-funcionários da Nokia ou empregaram vários de seus melhores engenheiros. A própria companhia lançou um programa de recolocação de seus ex-colaboradores.
Os mais de dez mil empregos na área de tecnologia criados pela Nokia se transformaram em um universo de milhares de engenheiros e técnicos de altíssima qualificação. Esses profissionais estão na vanguarda do desenvolvimento do 5G, a próxima geração da internet móvel, que prevê aumentar em até 20 vezes a velocidade de tráfego.
“Sem a história da Nokia e dos celulares e sem o caminho que essa história tomou, esse setor de telefonia não estaria aqui”, disse ao site VentureBeat Juha Ala-Mursula, ex-executivo da empresa e atual diretor da BusinessOulu, a agência de desenvolvimento econômico da cidade. “Hoje, podemos dizer que os problemas da Nokia foram a melhor coisa que poderia ter acontecido conosco.”
Novas tecnologias
Foi graças a inovações desenvolvidas em Oulu que a empresa finlandesa de tecnologia ABB adotou no ano passado a rede 5G em sua linha de produção de partes de motores elétricos. A companhia foi a primeira do mundo a adotar a tecnologia para fabricação real de produtos, e não apenas em testes. E a cidade segue sendo pioneira na criação de outras inovações, de um anel que monitora o sono das pessoas a novas tecnologia de pagamento online.
A Nokia já não é o colosso que foi quando liderava as vendas de telefones móveis. No auge, a companhia chegou a responder, sozinha, por 4% do produto interno bruto (PIB) e por 21% das exportações da Finlândia. Em 2018, nove anos depois de aparecer como a 85 maior empresa do mundo, ela estava na 466 posição. (A marca Nokia até voltou ao mercado de celulares, mas por meio de um acordo de licenciamento com a HMD Global. A companhia foi criada por ex-executivos da própria Nokia.)
De qualquer forma, a empresa segue sendo um orgulho nacional para os finlandeses e se manteve relevante ao redirecionar seu foco para o desenvolvimento de tecnologias de infraestrutura de telefonia. E, na esteira dessas reinvenções, Oulu se estabeleceu de vez como sinônimo de telefonia 5G e de cérebros. Eis aí um diferencial competitivo que a faz ser invejada por cidades do mundo todo.